Ao dobrar o novo século, um Freud renascido das cinzas chegaria à conclusão de que estava certo. A insustentável leveza da sociedade actual, incapaz de se dar tempo para explorar a sua caverna de Platão e encontrar a saída, resultou na negação cega de qualquer mal-estar (pulsão de morte) e na crescente fuga para a frente. Tendências destrutivas, exibição ou colagem a símbolos de poder (arsenal bélico, carros, mansões, aparecer na tv, em revistas cor-de-rosa ou ao lado de alguém influente) e a sexualização de tudo resumem-se, à lupa freudiana, a óbvios e compulsivos mecanismos de defesa. O tempo deu-lhe razão. O sexólogo Júlio Machado Vaz, 56 anos, autor de O Sexo dos Anjos, revisitou o baú de Sigmund e descobriu, com "amarga consciência", que As explicações Sexuais dadas às Crianças se mantêm, infelizmente, actuais, persistindo sem resposta a questão colocada na carta aberta que Freud escreveu em 1907: "Que se pretende quando se deseja esconder às crianças explicações sobre a vida sexual dos seres humanos?"
Mas a ciência contrariou-o. Consumou a perda de universalidade do complexo de Édipo (o "pecado original", abordado na antropologia das sociedades tribais) e minou a teoria do inconsciente (formado por impulsos agressivos e sexuais), ao exigir que fossem executadas, seguindo o formalismo do método experimental, os protocolos cientificos que a validassem.
Hoje, são cada vez mais os clínicos de outras correntes terapêuticas que lhe apontam lacunas. Rui Pedro Borges, 45 anos, psicólogo sistémico, aponta três revoluções que Freud simplesmente atirou para debaixo do tapete persa: "O modelo evolucionista de Darwin (as variáveis externas à psique), o princípio da relatividade de Einstein e a teoria da Gestalt (concepção humana relacional e grupal, além de psíquica)."
Não deixe de ver o excerto do filme sobre a sua vida, parte em que apresenta a sua tese.
http://www.youtube.com/watch?v=dQer8W_rl8A